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Análise Coringa, repensando o filme


Já fiz vídeos sobre o filme, uma hora acho inteligente, outra acho apelativo. Não conseguia ficar em paz com minha opinião até hoje, depois de ver Parasita (crítica social), um filme tão inteligente. Em comparação vejo que Coringa é mal construído e simplista.

Entendo as opiniões extremamente favoráveis ao filme, eu cheguei a ser uma delas, mas repensando o longa agora vejo que é um filme que parece ser mais inteligente do que realmente é. No fim, Coringa é um filme superestimado e muito em razão da interpretação de Joaquim Phoenix, grande ator.

No quesito narrativa, o filme peca com falta de sutileza e falta de ideias mais originais. Por exemplo, a quantidade de vezes que o protagonista apanha aleatoriamente em pouco espaço de tempo é um exagero. O perfil "rico que pisa em pobre" de Thomas Wayne e companhia mata qualquer possibilidade de nuances ou camadas, ao mesmo tempo que não explora o contexto social. Nesse caso, os roteiristas poderiam aprender com Parasita.

A vitimização e elevação do personagem também é preocupante. Encontraram justificativas clichês para um dos personagens mais perversos e caóticos do universo dos quadrinhos. Pegaram algo grande e simplificaram em um "vítima da sociedade".

Claro, não há como não sentir pelo personagem que sofreu abuso infantil e tem distúrbios mentais. Vale lembrar que existe uma série de fatores comuns entre homicidas e serial killers com relação a abuso e criação (negligenciados no filme), existe um fenótipo e genótipo que o filme negligenciou em favor de culpar somente a sociedade.

Ao aplaudir o fato dele matar "os ricos opressores", que coincidentemente são todos babacas e agressores, o foco sai da pessoa e leva para uma questão já batida de rico opressor (engraçado que ninguém nunca lembra de Bill Gates e suas inúmeras ações humanitárias).

É uma tristeza sem tamanho o que Arthur passou com a mãe e o que ele passou na sociedade. Isso não há dúvidas, entretanto, no único momento em que suas ações são questionadas pelo personagem de Robert De Niro, a escolha do Joker é logo calar o apresentador. Pelo breve momento em que o filme decide dar o foco na pessoa, no indivíduo, e tenta trazer ele para a responsabilidade de seus atos e escolhas, não há questionamento, apenas um tiro certeiro.

Ou seja, para o filme não interessa o indivíduo, o questionamento de suas escolhas, apenas sua autopiedade justificada no outro. Dessa forma o Coringa se distância de sua responsabilidade no momento que abre mão de seu nome e se esconde por trás da maquiagem e do nome Joker. Ele não quer encarar quem ele é, e mesmo que ele se olhe no espelho e veja o que se tornou, a responsabilidade ainda é do outro.

Portanto, o que empobrece um filme com tanto potencial é tirar o foco da pessoa, do personagem, para fazer uma crítica social extremamente pobre e caricata. E pior, o final com o take do Arthur em cima de um carro não traz uma sensação de deterioração, mas de heroísmo em um caos gerado por insatisfação popular (muito mal contextualizada). Nesse sentido, o que há no final do filme é que caos e destruição é a melhor resposta. Se existem pessoas em sofrimento, toda a sociedade deve sofrer. É melhor ter a vingança social e ter todo mundo ferrado igual do que repensar a responsabilidade do indivíduo e de ações concretas de pessoas.

Mas isso é um sintoma contemporâneo de terceirização de responsabilidade que muito apela ao ser humano. Quando o problema é da sociedade (ente abstrato e sem rosto) logo o problema não é meu, portanto não devo me movimentar ou me responsabilizar. O grito e emoção é maior que lógica e ação. Em uma sociedade que preza sentimentalismo e gritos acima das soluções, não é de se surpreender que o filme alcançou $874,486,992. Queremos mostrar para o mundo que a gente se importa sem ter que sair do sofá (ou do cinema).




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