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Crítica | O Irlandês


Martin Scorsese dispensa apresentações. O diretor/produtor/roteirista é responsável por Os Bons Companheiros, Cassino, Taxi Driver, Os Infiltrados, O Aviador, O Lobo de Wallstreet e muitos outros, sempre com um desejo de contar uma história crua e real. Conhecido por suas parcerias recentes com o ator Leonardo DiCaprio, o talentoso diretor já tinha uma parceria brilhante com Robert De Niro em filmes como Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável, The King of Comedy, Goodfellas, Cabo do Medo, Cassino e  agora um original Netflix, O Irlandês.

Descendente de sicilianos, seu estilo de contar histórias contém assinatura própria, uma visão crua e por vezes violenta da realidade, mas que traz como toque especial histórias focadas em gangsters, muitas vezes inspiradas em fatos, identidade ítalo-americana e crimes. Isso se torna claro quando vemos filmes como Goodfellas (Os Bons Companheiros), Cassino e agora O Irlandês.

O longa é um projeto audacioso de 209 minutos para a plataforma de streaming, baseado no livro de Charles Brandt  "I Heard You Paint Houses" com roteiro de Steven Zaillian, tendo Scorsese na direção e produção junto a Robert De Niro, que também estrela o longa. 

Em suma, o filme acompanha a história de Frank "The Irishman" Sheeran, um ex-veterano da Segunda Guerra Mundial e assassino de aluguel para a máfia encabeçada pela família Bufalino representada por Russel (Joe Pesci saído da aposentadoria especialmente para esse filme), que chega ao fim da vida e junto com o telespectador passa a fazer um trabalho de reminiscência, retomando seu início de carreira junto ao crime organizado até seu envolvimento com o desaparecimento de seu amigo de longa data Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder sindical.

O filme carrega a assinatura de Scorsese, em especial lembra bastante o estilo de Os Bons Companheiros. Temos o protagonista narrando sua jornada e envolvimento com o crime organizado, mesclando momentos de extrema violência com momentos cômicos de malandragem, mas sempre com a tensão presente já que nunca se sabe que vai levar um tiro ou explodir algo.

Robert De Niro está em casa fazendo o papel de homem durão e inatingível, difícil de decifrar enquanto Al Pacino também parece se sentir em casa. Joe Pesci também entrega uma atuação de poucas palavras, mas com densidade. Anna Pequim entra muda e sai calada, mas consegue trazer uma boa atuação quando o momento pede, e foram poucos, assim como o restante das personagens femininas que poderiam ter sido melhor aproveitadas, coisa que o diretor já conseguiu em Cassino e Os Bons Companheiros. 

O ponto negativo do filme fica por conta de tantos personagens entrando, saindo e gerando consequências na história que fica difícil acompanhar. Uma boa dica é dar uma pesquisada nas histórias reais para entender melhor o contexto.

Tratando-se de um filme que narra uma longa passagem de tempo, a história se inicia com um De Niro e outros atores mais jovens, portanto utilizou-se um rejuvenescimento por computação que até é perceptível, mas de muito bom gosto.

Por fim, trata-se de um ótimo filme de gangster com ótimas atuações e uma excelente direção, em especial em momentos mais contemplativos, o que condiz com a ideia de se ter uma pessoa no fim da vida repensando momentos importantes. Para essa pessoa o tempo talvez não seja importante, por isso ela toma o tempo que for para contar sua história. Contudo, para nós as três horas e meia podem parecer um certo exagero por parte do diretor.

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